segunda-feira, 10 de maio de 2010

Não pise na grama



Verdade e a liberdade são coisas que nós criaturas humanas procuramos em cada momento das nossas vidas, porém, é possível alcançar tais coisas?
A sociedade pela qual já estamos formados barram ambas ideologias, a começar pela formação de nossas própias casas, elas não servem mais como abrigo para as tempestades, ventos ou animais selvagens, mas como propriedade privada na qual escolhemos quem entra e quem sai. E mesmo assim somos obrigados a pagar esse mínimo de território em que julgamos ter a nossa liberdade a uma outra instituição financeira que pode tomar posse do nosso território caso as dívidas não estejam em dia ou exista uma situação financeira que justifique a tomada de posse.
            Existem demarcações que nos obrigam a seguir por determinados caminhos e não por outros, as parede, calçadas e plaquinhas de “não pisem na grama” (levando-se em conta que antes da invenção dos sapatos era na terra, logicamente não terra com grama pré-produzida, mas era na terra onde ande andávamos) servem de instrumento para guiar onde o sujeito deve ou não colocar seus pés.
            Raul Seixas defendia a “sociedade alternativa” onde as pessoas poderiam escolher fazer o que quiserem, não dependendo de normas e conceitos com a qual a sociedade sujeita as pessoas, porém cada fez mais a “sociedade alternativa” se afasta da realidade. Hoje nós nem podemos escolher como será a educação das nossas crianças (o que dirá perguntar a elas se ela querem ser educadas conforme os preceitos da sociedade), o governo a TV já fazem isso antes de nós, quando o vemos já são homens e mulheres com sua própria consciência manipulada.
            No filme “Na Natureza Selvagem” de Sean Penn, o personagem Christopher McCandless, interpretado por Emile Hirsch, busca um experiência de total exclusão da sociedade capitalista, onde procurou a liberdade e a verdade dentro da natureza. Ele passou por muitos lugares antes de chegar ao seu destino, o Alasca, tendo o conhecimento das armadilhas da sociedade.
            Uma cena do filme mostra o então Alexander Supertramp apanhando de um guarda que o expulsa do vagão na qual seguia viagem. Essa cena coloca como se ele quisesse dizer: “Se não quer seguir as regras que lhe são impostas, então não fique no caminho da civilização”
            Porém se somos tão escravizados, porque nos acomodamos com tanta facilidade? Onde está o espírito que revolucionou tantos povos? O prazer de tantas descobertas?
Na trilogia Matrix vemos muito essas idéias, desde o primeiro até o ultimo filme, trazendo duas repostas: vontade e ignorância.
            A vontade é mostrada em uma cena na qual um dos traidores conversa com o agente Smith, falando que preferia o gosto falso da carne ao invés da dura realidade em que vivia.
            A ignorância já é representada no segundo filme, quando Neo está conversando com um conselheiro e este indaga se quem está no controle daquelas maquinas que estava fazendo o serviço dentro da base era realmente os humanos, quem dependia de quem. Essa “ignorância” se torna mais forte no terceiro filme em que Neo destrói as máquinas do universo real usando a força da mente, e por isso trazendo a dúvida se aquela outra realidade era mesmo a original.
             Nossos conceitos e nossa vida atual não nos deixam enxergar a verdade sem exigir da gente sacrifícios. Sendo assim termino por parafrasear o personagem Mustafá Mond do livro Admirável mundo novo que certo em exilar os personagens principais, fala sobre aqueles que buscam a verdade: “Ainda bem. - acrescentou depois de um silêncio - que há tantas ilhas no mundo”.


Um comentário:

  1. Caro andarilho, já dizia Cecília Meireles:

    "...Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda..."

    Sartre, filósofo, dizia que estamos "condenados a ser livres", mas na incapacidade de uns em lidar com tamanha responsabilidade, nos acorrentamos a algo ou alguém.

    E se Neo resolvesse escolher a pílula azul? Ainda assim não estaria exercitando sua liberdade? A mesma liberdade de Cypher de escolher não saber... afinal, diz o ideário popular que a ignorância é uma benção!

    Enfim, andarilho, deixo-te com Antonio Machado:

    Caminante, son tus huellas
    el camino y nada más;
    Caminante, no hay camino,
    se hace camino al andar.
    Al andar se hace el camino,
    y al volver la vista atrás
    se ve la senda que nunca
    se ha de volver a pisar.
    Caminante no hay camino
    sino estelas en la mar.


    Um abraço,

    Edgar

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